quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Solidão X Solitude


Na solitude estamos constantemente encantados conosco mesmos. Ela é abençoada, um profundo preenchimento, que nos mantém centrados e enraizados. Ela é independente. Todos são um fim em si mesmos. Ninguém existe para ser usado. Quem está no pico da solitude só se atrai por quem também esteja só. Dois solitários olham um para o outro, mas dois que conheceram a solitude olham para algo mais elevado. Se estão felizes consigo mesmos, tornam-se companheiros. As palavras felicidade e acontecimento têm a mesma raiz em inglês. Porque a felicidade simplesmente acontece. Para ser feliz é preciso deixar acontecer. O caminho do amor deve ser tomado com tremenda consciência e o da consciência, com tremendo amor. Depois de cada experiência profunda nos sentimos sós e tristes: seja um grande amor ou uma meditação. Por isso muitos evitam experiências profundas. A solitude é bela e livre. É um momento em que o outro não é necessário. Após essa liberdade o amor é possível. O amor traz solitude e a solitude traz amor. Já a solidão não cria amor; apenas necessidade. Ela pode matar. Dois solitários não conseguem se relacionar porque isso não ocorre a partir da necessidade. Solitude é uma flor desabrochando, é positiva, saudável. Só o amor dá a coragem de sermos sós. Só assim acumulamos energia até transbordar e transformar-se em amor. Sós, acumulamos amor, celebração, dança, energia, prazer, vida. Só o excesso de energia possibilita o orgasmo, que não é um alívio, mas celebração. Quando os amantes se afastam, readquirem sua solitude, beleza e alegria. A alegria traz a necessidade de compartilhar. A paixão é muito pequena diante da compaixão. Solitude é mover-se para dentro e amor é mover-se para fora. Ambos os movimentos são enriquecedores.
Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós. A solitude é nossa verdadeira natureza, mas não estamos cientes dela. Por não estarmos cientes, permanecemos estranhos a nós mesmos e, em vez de vermos nossa solitude como uma imensa beleza e bem-aventurança, silêncio e paz, um estar à vontade com a existência, a interpretamos erroneamente como solidão.

A solidão é uma solitude mal interpretada. E uma vez interpretando mal sua solitude como solidão, todo o contexto muda. A solitude tem uma beleza e uma imponência, uma positividade; a solidão é pobre, negativa, escura, melancólica.

A solidão é uma lacuna. Algo está faltando, algo é necessário para preenchê-la e nada jamais pode preenchê-la, porque, em primeiro lugar, ela é um mal entendido. À medida que você envelhece, a lacuna também fica maior. As pessoas têm tanto medo de ficarem consigo mesmas que fazem qualquer tipo de estupidez. Vi pessoas jogando baralho sozinhas, sem parceiros. Foram inventados jogos em que a mesma pessoa joga cartas dos dois lados.

Aqueles que conheceram a solitude dizem algo completamente diferente. Eles dizem que não existe nada mais belo, mais sereno, mais agradável do que estar só.

A pessoa comum insiste em tentar se esquecer de sua solidão, e o meditador começa a ficar mais e mais familiarizado com sua solitude. Ele deixou o mundo, foi para as cavernas, para as montanhas, para a floresta, apenas para ficar só. Ele deseja saber quem ele é. Na multidão é difícil; existem tantas perturbações... E aqueles que conheceram suas solitudes conheceram a maior das bem-aventuranças possíveis aos seres humanos, porque seu verdadeiro ser é bem-aventurado.

Após entrar em sintonia com sua solitude, você pode se relacionar. Então, seu relacionamento trará grandes alegrias a você, porque ele não acontecerá a partir do medo. Ao encontrar sua solitude, você pode criar, pode se envolver em tantas coisas quanto quiser, porque esse envolvimento não será mais fugir de si mesmo. Agora, ele será a sua expressão, será a manifestação de tudo o que é seu potencial.

Porém, o básico é conhecer inteiramente sua solitude.

Assim, lembro a você, não confunda solitude com solidão. A solidão certamente é doentia; a solitude é perfeita saúde. Seu primeiro e mais fundamental passo em direção a encontrar o significado e o sentido da vida é entrar em sua solitude. Ela é seu templo, é onde vive seu Deus, e você não pode encontrar esse templo em nenhum outro lugar.


Osho

"Esteja no mundo, mas nao deixe o mundo estar em você"!


“Gostaria que você se tornasse tão capaz que pudesse viver o dia-a-dia e ainda ser meditativo. Gostaria que você se relacionasse com as pessoas, amasse, tivesse milhões de relacionamentos – porque eles enriquecem... – e, ainda assim, continuasse a ser capaz de fechar suas portas e, algumas vezes, tirar uma folga de todos os relacionamentos, de modo que você possa relacionar-se com seu próprio ser também. Relacione-se com os outros, mas relacione-se consigo mesmo também. Ame os outros, mas ame a si mesmo também. Saia! – o mundo é belo, cheio de aventuras; é um desafio, ele o enriquece. Não perca essa oportunidade! Sempre que o mundo bater à sua porta e chamá-lo, saia! Saia sem medo, não há nada a perder, há tudo a ganhar. Mas não se perca. Não vá, permaneça lá e se perca. Algumas vezes, volte para casa. Algumas vezes, esqueça o mundo – estes são os momentos para a meditação. Diariamente, se quiser tornar-se equilibrado, você deve equilibrar o exterior e o interior. Ambos devem ter o mesmo peso, para que dentro de você nunca haja desequilíbrio. É isso que os Mestres-Zen querem dizer quando recomendam: “ Caminhe no rio, mas não deixe a água tocar em seus pés”. Esteja no mundo, mas não deixe o mundo estar em você. Quando voltar para casa, volte para casa – como se todo o mundo tivesse desaparecido. “
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(Osho)