segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

BUDISMO:Uma visão sobre os ciclos que acompanham a vida do ser humano



Como religião ou como filosofia, o Budismo sempre ressaltou a importância de se encarar diretamente a realidade da morte, definindo-a, assim como a doença e a velhice, como um dos sofrimentos fundamentais que devemos enfrentar. Por causa dessa definição, muitas vezes associa-se ao budismo uma visão pessimista da vida, quando na realidade é precisamente o contrário. Como a morte é inevitável, todo o intento de ignorar ou evitar esta realidade essencial da vida nos condena a uma forma de vida superficial. Uma clara consciência e correta compreensão da morte nos permite viver sem medo, com força, com clareza de propósito e alegria.

O Budismo considera o universo como uma vasta entidade viva. Nela, os ciclos individuais de vida e morte se repetem sem cessar. Passamos por estes ciclos todos os dias, enquanto milhões de células de nosso corpo morrem e se renovam por meio de um processo metabólico. A morte é, então, parte imprescindível da vida, possibilitando a renovação e um novo crescimento. No momento da morte, regressamos ao vasto mar da vida como uma onda rompe e volta a enterrar-se em mar aberto. Com a morte, a força vital fundamental, individual, sustentáculo de nossa existência, regressa ao grande universo. O ideal seria poder experimentar a morte como um período de descanso, como um sono rejuvenescedor após a luta e esforços do dia-a-dia. O Budismo afirma que a continuidade dos ciclos de vida e morte é permanente e que, neste sentido, nossa vida é eterna. Como escreveu Nitiren: "Quando examinamos a natureza da vida desde a perfeita iluminação, percebemos não haver um começo marcando o nascimento e, portanto, não haver um fim que signifique a morte".

No século V, o grande filósofo Vasubandhu da Índia desenvolveu o "Ensinamento das nove consciências" cujo tema é descrever as funções eternas da vida. Em sua teoria, as primeiros cinco níveis de consciência correspondem aos cinco sentidos e o sexto, ao pensamento consciente. Este sexto nível de consciência inclui a capacidade de efetuar juízos racionais e de interpretar a informação recolhida pelos sentidos. O sétimo nível de consciência chamado manas corresponde ao subconsciente tal como o descreve a psicologia moderna. É o local onde se encontra nosso sentido profundo de um "eu". Por debaixo deste, encontra-se a oitava, a consciência alaya. Neste nível, encontra-se a energia potencial, tanto positiva como negativa, criada por nossos pensamentos, palavras e ações. Esta energia potencial, também conhecida como tendência profunda de vida, é o que chamamos de carma.

Novamente, revela-se uma outra diferença de certas suposições: o Budismo não considera o carma fixo e imutável. Nossa energia cármica, cujos textos budistas descrevem como torrente embravecida da consciência alaya, interage com outros níveis de consciência. É nesta camada sumamente profunda que os seres humanos exercem influência entre si, ao redor e em toda a vida. Também, aí, se mantém a continuidade entre os ciclos da vida e da morte. Quando morremos, a energia potencial que representa a balança cármica de todas as nossas ações - criativas e destrutivas - egoístas e altruísticas - continua fluindo na consciência alaya. É isto- o carma -, que determina as circunstâncias em que a energia potencial voltará a manifestar-se no nascimento, como uma nova vida individual.

Finalmente, existe um nono nível de consciência. Esta é a fonte da própria vida do cosmo abarcando e sustentando, inclusive, a função da consciência alaya. O propósito da prática budista é estimular e despertar esta consciência chamada amala, fundamentalmente pura, ou ainda a própria sabedoria, cujo poder reside em transformar até o fluxo de energia negativa mais arraigado nas camadas mais superficiais da consciência.

As questões da vida e da morte são fundamentais, subjazem e determinam como vemos praticamente tudo. Assim, uma compreensão profunda da natureza da morte e da eternidade da vida, pode abrir novos horizontes para toda a humanidade e "dar rédeas soltas" às reservas de sabedoria e compaixão que, anteriormente, encontravam-se inexploradas.

Adaptado de um artigo publicado pela SGI Quartely com permissão do departamento de Relações Públicas da Soka Gakkai Internacional

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